Diferentes avanços científicos têm determinado
um volume crescente de conhecimentos relativos aos efeitos da nutrição para
diversos aspectos da saúde. Consequentemente, esse desenvolvimento da produção
científica tem propiciado um crescente interesse pelos benefícios da nutrição
no bem-estar e na qualidade de vida, ampliando as fronteiras do cuidado
profissional com a saúde humana. Correspondentemente ao desenvolvimento
científico, a procura pela graduação em Nutrição segue o mesmo caminho.
Segundo o Conselho Federal de
Nutricionistas (CFN), o Brasil possui cerca de 108 mil nutricionistas formados
e ainda há muitas vagas para o crescimento do mercado. Na medida em que em 2018
é estimado que a população brasileira seja equivalente a 209 milhões de
pessoas, há apenas um nutricionista a cada quase dois mil
habitantes. Em adição a este dado, no segundo trimestre de 2018 o CFN observou uma
média de crescimento equivalente a 4,5 vezes maior de nutricionistas graduados
em relação ao ano 2000 no Brasil.
Já no estado do Rio de Janeiro, no ano 2000
havia 5.383 nutricionistas formados, enquanto hoje temos 15.254 profissionais.
No entanto, a maioria dos formandos recém-chegados no mercado profissional saem
da faculdade sem nenhuma ou pouca prática no atendimento ambulatorial, e,
principalmente, no ambiente profissional de consultórios particulares.
Enquanto isso, a pesquisa Vigitel 2017 (Vigilância de Fatores de Risco e
Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) do Ministério da Saúde
comprova que mais da metade dos brasileiros está com excesso de peso
(Índice de massa corpórea - IMC > 25 kg/m²) e um quinto da população com
obesidade (Índice de massa corpórea - IMC > 30 kg/m²). O aumento excessivo
de peso corporal se constitui em fator de risco significativo para diversos
problemas de saúde, incluindo as principais causas de mortalidade e de
adoecimento nas últimas décadas, como os problemas cardiovasculares
(hipertensão arterial, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral),
metabólicos (diabete, aumento de colesterol e triglicerídeos) e diferentes
formas de câncer.
Atento a esse quadro, o governo federal vem realizando
campanhas para promover a alimentação saudável e prevenir o sobrepeso da
população. Um exemplo é o Programa Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE), cujo objetivo é combater e prevenir o sobrepeso e a obesidade infantil,
que atualmente atingem os 35% e 16%, respectivamente, de acordo com a última
Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008/2009. Em relação aos
adolescentes, 8% estão obesos, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do
Escolar (PeNSE) de 2015.
Além do
peso corporal excessivo, diversos outros aspectos nutricionais podem interferir
na saúde humana, seja de forma positiva seja de modo negativo.
A busca por um estilo de vida mais saudável tem impulsionado o mercado
da nutrição em todo o mundo. As influências da alimentação na composição
corporal, saúde e qualidade de vida, no Brasil e no mundo, têm levado a
aumentar a busca pela qualidade dos alimentos.
Um estudo da agência Euromonitor International, de 2017, indica que nos cinco anos
anteriores, o segmento de alimentos e bebidas saudáveis tem crescido 12,3% ao
ano, em média. O estudo The Top 10
Consumer Trends for 2017, também da Euromonitor,
reforça a tendência das pessoas de buscarem alimentos mais saudáveis. Cerca de
79% dos participantes (em escala mundial) dizem substituir alimentos
“convencionais” por versões mais nutritivas. Segundo a agência de pesquisas Euromonitor Internacional, até o ano de
2021 o mercado de alimentação saudável no Brasil deve crescer, em média, 4,41%
anualmente. O crescimento do setor de bebidas e alimentos saudáveis está tão em
destaque que, só no ano de 2016, por exemplo, foram movimentados cerca de R$
93,6 bilhões em
vendas, ou seja, com esse montante o Brasil ficou na 5ª posição do ranking dos
países mais importantes para o setor.
Apesar do aumento da demanda por informações que visam a orientar a
população sobre os cuidados com alimentação e com a funcionalidade dos
alimentos consumidos, o profissional nutricionista, ao adentrar o mercado de
trabalho, se encontra ainda, muitas vezes, inapto para disponibilizar e
integrar os diferentes aspectos e escolhas nutricionais ao desenvolvimento
crescente das doenças crônico-degenerativas. Essas variáveis se encontram
relacionadas não somente às flutuações de peso corporal, mas também aos
transtornos alimentares, com impactos relevantes nos sistemas
psico-comportamental,gastrointestinal,
metabólico, renal, cardiocirculatório, respiratório, imunológico, entre outros,
o que faz aumentar a importância e a preocupação em relação ao perfil de
formação qualificada deste profissional para a sociedade e no mercado de
trabalho.
Por ser o objetivo almejado por uma parcela
significativa de nutricionistas, o consultório é uma das áreas de atuação que
está em alta no mercado de trabalho, e para isso, é necessário estar preparado
para os desafios do setor. A regulamentação da Lei 8.234, de 17 de setembro de
1991, assegura importantes conquistas para os nutricionistas clínicos, e a
partir da mesma a prática liberal em consultório passa a ganhar força,
representando de fato uma modalidade de exercício profissional emergente em
várias regiões do país (PINTO, 2012).
Um estudo transversal com abordagem
quantitativa, envolvendo uma população constituída por 45 nutricionistas que
atendiam em consultórios do município de Fortaleza – CE, concluiu que houve um
crescimento dos cursos de pós-graduação brasileira na área de nutrição na
primeira década dos anos 2000. No que diz respeito à continuidade da formação
após a graduação, os resultados da pesquisa destacaram que a maioria dos
profissionais atuantes em consultório eram especialistas. Neste estudo houve um
maior percentual de nutricionistas cursando alguma modalidade de pós-graduação
na área de nutrição. Desse modo, pode-se dizer que a realização de estudos no
âmbito de cursos de pós-graduação em Nutrição pode representar um importante processo para se manter atualizado, se
aperfeiçoar profissionalmente, beneficiar a população assistida de modo mais
qualificado e competente, e ser valorizado perante a sociedade na qual se está
inserido, além de gerar a possibilidade de melhorar os níveis de renda (PINTO,
2012).
Uma pesquisa realizada pelo CFN em 2016, a fim de
identificar a inserção profissional do nutricionista no Brasil, constatou que
em relação aos cursos de especialização e pós-graduação, a participação foi de
72%, e que aproximadamente 31% atuam na área de Nutrição Clínica, 31% em Saúde
Coletiva, 18% em Saúde Pública, 12% em Docência, e outros 8% em áreas como
Indústria de Alimentos, Marketing e Nutrição Esportiva.
Embora a
profissão esteja se tornando mais valorizada e especializada, a graduação forma
profissionais generalistas, que durante todo o seu processo de formação
acadêmica, na maioria das vezes, tem pouca ou nenhuma experiência com
atendimento em consultório e com a complexidade dos requisitos envolvidos nessa
modalidade de prática profissional, tais como a parte legislativa, a financeira
ou a relativa ao marketing.
Esses dados demonstram o grande interesse por cursos
de especialização na área clínica, cuja diversidade em conteúdos e cujo
desenvolvimento científico demandam atualizações contínuas, a partir das
publicações de artigos de pesquisas científicas. Além disso, a importância da
nutrição para a saúde e o interesse crescente da população sobre a temática
determinam a produção de muita publicação na grande mídia, voltada para a
popularização científica, com generalizações nem sempre apropriadas para as
necessidades e características de cada indivíduo, e com isso, propiciando
possíveis consequências negativas de mudanças alimentares sem a devida
adequação personalizada decorrente da orientação profissional.
O mercado
da Ciência da Nutrição precisa prover especialistas preparados a estas
necessidades crescentes, com capacidade de integrar competências técnicas e
humanas. A utilização de metodologias de ensino-aprendizagem focadas na
interação, na solução de problemas complexos, no desenvolvimento de
competências e habilidades múltiplas - como a compreensão mútua, a comunicação
oral e escrita, o trabalho em equipe, a liderança democrática e participativa,
o empreendedorismo, a inovação, a atitude ética, a consciência comunitária,
ambiental, ecológica e afetiva, entre outras - permite ao profissional promover
a verdadeira visão integrativa, facilitando a atualização, o aprofundamento e o
aperfeiçoamento de seus conhecimentos e suas habilidades a fim de oferecer o
que há de mais recente e efetivo no acompanhamento e na assistência de seus
pacientes.
Nessa
perspectiva, a metodologia utilizada na pós-graduação permite alicerçar um
aprendizado que abrange capacidades profissionais além do conteúdo técnico, e
se constitui em promotora de uma educação integral centrada no estudante,
baseada no objetivo de aprender a aprender, promovendo e desenvolvendo a
autonomia, o senso crítico, a criatividade, a inovação, a capacidade analítica
e uma visão contextual do conhecimento.